"É curioso registar que, pelo menos desde o século XVII e até aos nossos dias, a reflexão crítica de várias figuras importantes da nossa cultura “cultivada” quando pensam o fenómeno militar, de D. Francisco Manuel de Melo e D. Luís da Cunha até Rui de Azevedo Teixeira, passando, entre outros, por Latino Coelho, Oliveira Martins e Borges de Macedo, se preocupe em destacar uma certa dose de impreparação e de falta de coordenação, de ciência do comando, de conhecimentos militares específicos, tanto dos agentes, como dos “narradores” dos factos. O caso mais recente é o de Azevedo Teixeira que, tratando das relações da guerra colonial com o romance português, escreve, a propósito dos alferes milicianos que foram todos, ou quase todos, os principais autores que sobre ela escreveram poesia ou ficção: “os galões de alferes que decoraram os ombros destes milicianos – que lhes permitia somente o acesso a um baixo nível de informações militares – justificam a quase total inexistência de descrições acertadas do funcionamento da máquina militar portuguesa, da sua organização, cooperação dos ramos marciais, pensamento estratégico-militar, armamento, disciplina militar, cadeia logística, etc.
A sua incultura militar impede-os ainda de entenderem, em profundidade, a natureza da guerra de guerrilhas em que participaram, estando-lhes vedada a compreensão das estratégias e contra-estratégias, das tácticas, das logísticas e das éticas”(…)
Vasco Graça-Moura, Lusitana Praia (Ed. ASA, 2004, p. 223)