8. Uma Proposta de Cânone

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AULA DE AGREGAÇÃO (a tal "Prova Académica para Catedrático")

 

Esta é a primeira proposta formal e fundamentada de cânone sobre a literatura da Guerra de África. Faço-a tal vez na hora, e, de certeza, no lugar mais adequados. A Escola tem, já não a exclusividade, mas ainda a maior parcela de responsabilidade na questão canónica, na legitimação do cânone. Embora, como diz Frank Kermode, os cânones já não possam “ser considerados obrigatórios”, também como ele, não consigo ver “como é que o funcionamento normal das instituições do saber, incluindo o recrutamento do seu pessoal docente, pode passar sem eles”46.

Faço esta proposta canónica com o sentido de defesa da minha geração, uma geração geralmente incompreendida, porque aparentemente contraditória, uma vez que ficou entalada entre o erro da guerra que fez e o acerto do 25 de Abril que deu ao País. Faço esta proposta também, como diria José Yvancos, “para ajudar a constituir e justificar um presente”47, o nosso presente. Como qualquer outra proposta de canonização literária, esta acarreta ansiedades e comporta riscos, visto que terá sempre uma margem de profecia e será discutível, mas o conhecimento só avança – a justificação primeira para a Universidade – com espírito pioneiro, com o apelo do novo. A sua eventual felicidade só poderá ser comprovada em duas, três, gerações.

 (…)

Se a resposta vier a ser afirmativa, isso significará que, talvez pela primeira vez depois da Expansão, a nossa literatura esteve à altura de um acontecimento histórico absolutamente decisivo – com a ironia da complementaridade, do fecho do círculo de uma certa ideia de ser português.

Uma Proposta de Cânone (Edições Cosmos, 2005, pp. 51-53).

46. Kermode, p. 79.

47. José M. P. Yvancos, El canon en la teoria literaria contemporánea (Valencia,1995), p.137. 

Julho de 2005

8. Uma Proposta de Cânone
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